Coluna Vertical – O que faz falta

Avaliação, mérito e transparência são palavras para serem usadas no discurso político, mas proibidas na acção política, sob pena de se perder automaticamente as eleições. A nossa organização política assenta numa teia de cumplicidades, amizades e promiscuidades, construída  em forma piramidal que começa na mais pequena freguesia e termina na cúpula do Estado e que bloqueia qualquer tentativa de regeneração do sistema.

Portugal precisa urgentemente de organização, racionalidade e bom senso que é precisamente aquilo que, por cá, não existe. E, sobretudo, de valorizar aqueles que são melhores do que nós, porque não é promovendo os medíocres e odiando o mérito que os países conseguem progredir, desenvolver-se e ultrapassar os seus problemas. Mas isto também é pedir de mais num país onde as pessoas são como o vinho: os melhores são para exportação.

Parafraseando George Orwell, a saúde das democracias, tal como a saúde das competições desportivas, dependem do grau de exigência dos cidadãos relativamente à sua família ideológica e desportiva. Quem se move por convicções é muito exigente consigo e com os seus, quem se move por inveja exige tudo aos outros e desculpa tudo aos seus. E reside aqui precisamente um dos grandes problemas do nosso país: a inveja tem um peso muito grande na formulação da opinião e da decisão de uma esmagadora maioria dos portugueses.

Avaliação, mérito e transparência são palavras para serem usadas no discurso político, mas proibidas na acção política, sob pena de se perder automaticamente as eleições. A nossa organização política assenta numa teia de cumplicidades, amizades e promiscuidades, construída  em forma piramidal que começa na mais pequena freguesia e termina na cúpula do Estado e que bloqueia qualquer tentativa de regeneração do sistema.

Mesmo quando a situação apodrece ao extremo e começa a exalar um cheiro nauseabundo, a reacção do português que a sustenta com o seu voto é impreterivelmente esta: “os outros, se cá estivessem, ainda faziam pior.” Ou seja, não há praticamente nenhum português que acredite que possa existir alguém que consiga fazer melhor. Não porque não haja melhores e muito melhores. Mas porque sabem, por conhecimento directo e pessoal, que o sistema apenas está preparado para produzir mais do mesmo.

Artigo anteriorMETEOROLOGIA COM MeteoAlentejo
Próximo artigoMontargil – Uma vida dedicada