Ondas de calor em Portugal — o que está por detrás do aumento da sua intensidade e frequência

As ondas de calor em Portugal estão a tornar-se mais intensas e frequentes, e a ciência mostra que não é por acaso. Estudos recentes revelam que o aquecimento global, impulsionado pelas atividades humanas, tornou estes fenómenos cerca de 40 vezes mais prováveis. Além disso, apenas 57 grandes empresas ligadas aos combustíveis fósseis são responsáveis por metade do aumento da intensidade das ondas de calor desde 1980. A reflexão é clara: proteger o clima é proteger as pessoas.

Olá e bem-vindos a mais um Aponte Ambiental.
Hoje falamos de um tema na ordem do dia, já que está a decorrer em Belém, no Pará, no Brasil, a conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. Hoje falamos de um tem que todos nós sentimos cada vez mais na pele: as ondas de calor. O calor extremo tem vindo a tornar-se mais frequente e intenso em Portugal, e a ciência explica porquê.

De acordo com o grupo internacional World Weather Attribution, responsável por analisar o impacto das alterações climáticas em fenómenos extremos, as ondas de calor que hoje ocorrem em Portugal são cerca de 40 vezes mais prováveis devido ao aquecimento global causado pelas atividades humanas. Este estudo, publicado em 2025, baseou-se em dados recolhidos em vários países do sul da Europa e concluiu que as temperaturas que antes eram excecionais estão a tornar-se o novo normal.

Os cientistas alertam que as alterações climáticas não criam apenas calor — elas agravam as suas consequências: mais incêndios rurais, mais pressão sobre a agricultura e os recursos hídricos, e mais riscos para a saúde, sobretudo entre os idosos e as crianças.

Mas há outro dado que ajuda a perceber o que está por detrás deste cenário. Um estudo publicado na revista Nature Communications mostrou que apenas 57 grandes empresas, sobretudo ligadas aos combustíveis fósseis, são responsáveis por cerca de metade do aumento da intensidade das ondas de calor globais desde 1980. Ou seja, uma parte muito significativa do aquecimento que sentimos é consequência direta das emissões produzidas por um número reduzido de grandes poluidores.

Estas empresas pertencem ao setor do petróleo, do gás e do carvão, e continuam a exercer grande influência sobre políticas públicas e decisões internacionais. Segundo uma investigação do The Guardian, algumas delas financiam campanhas de desinformação, pressionam governos e procuram atrasar leis que promovam a transição energética. É o que vários cientistas e ativistas chamam de lobby climático, uma forma de resistência organizada à mudança.

No entanto, há sinais de esperança. Muitos países e cidades estão a adotar medidas de adaptação, como o aumento das zonas verdes, o uso de materiais de construção mais refletivos e o planeamento urbano para reduzir as chamadas ilhas de calor. Portugal, por exemplo, tem vindo a reforçar os seus planos municipais de adaptação às alterações climáticas, mas os especialistas lembram que a prioridade continua a ser reduzir as emissões globais.

A comunidade científica é clara: cada fração de grau conta. Evitar o agravamento do aquecimento global significa menos dias de calor extremo, menos perdas agrícolas, menos pressão sobre os ecossistemas e menos doenças associadas ao calor.

Conselho ambiental:
Questione sempre. Quando vir uma promessa verde de empresa ou discurso “a favor do ambiente”, pergunte quem lucra e quem perde. Recorra a fontes independentes, apoie ciência aberta e informe-se antes de aceitar versões convenientes. O combate às alterações climáticas exige não só ação técnica mas também vigilância cívica.

Porque proteger o clima é proteger as pessoas.
Até à próxima edição d’ Aponte Ambiental!

E lembre-se de ajudar a preservar o ambiente!

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