Armindo Neves – Entrevista

Esta entrevista foi publicada na edição de Março de 2013 do jornal aponte.

Entendemos republicar este artigo de forma a homenagear o Armindo que durante muitas edições foi figura presente no Jornal aponte.


Armindo Neves – Baja Portalegre 500 – 2015

Gente da Terra, com com Armindo Carreiras Neves

Esta entrevista pretende dar a conhecer uma parte da vida de alguém que de alguma forma contribui para a promoção da nossa região.

Nome: Armindo Carreiras Neves
Data de nascimento: 21/09/1970

Nasci em Benavila, na casa onde os meus Pais viviam, como acontecia aliás na maioria das vezes nesse tempo e, posso dizer que tive uma infância bastante feliz.
Desse tempo recordo os muitos cheiros do campo e das cearas, quando nós, ainda miúdos, passávamos grande parte dos dias, durante as férias de verão, a deambular pelos campos em
milhentas atividades que arranjávamos sempre para fazer. Recordo-me de sair da escola e ficar logo um pouco mais á frente, no “largo da feira”, a jogar á bola, á pata, etc., até ser noite e, normalmente a minha mãe me vir buscar
puxado por uma orelha. Tivemos, todos nós naquela época, uma infância saudável e feliz. Os nossos pais não se preocupavam por onde andávamos, porque existia segurança, confiança
e respeito por todos, algo que, infelizmente e para grande pena minha, hoje em dia já não
existe.

Estudei em Benavila, ainda na antiga Telescola, depois em Avis e posteriormente em Ponte de Sôr, onde terminei o curso complementar na área D. A partir dessa altura comecei a trabalhar,
primeiro na empresa que os meus pais tinham e posteriormente na área comercial de outras empresas ligadas á construção. Entretanto casei, ainda muito novo, porque a Dora vivia em Lisboa e não estávamos juntos tanto tempo como gostaríamos. Assim sendo, lá nos casámos, eu com 21 anos e a Dora com 19 e, como costumo dizer, fomo-nos criando um ao outro e felizmente ainda continuamos juntos, já lá vão quase 21 anos. Desta união nasceram as nossas filhas, a Carolina, que tem hoje 15 anos e a Matilde com 10 e apesar das dificuldades de vivermos no interior, por opção nossa nunca abandonámos a terra onde nasci, até porque, devido á minha atividade profissional que me obrigava a andar diariamente por todo o País, não era preponderante o local onde vivíamos.

Hoje em dia, com a situação atual no nosso País e na nossa região, e porque acreditamos, eu e a Dora, que temos que ser pró-ativos e lutar pelo nosso futuro em vez de nos andarmos a lamentar, demos o passo no sentido de termos o nosso negócio e criarmos a nossa própria empresa. Acreditamos que nas alturas de crise também existem oportunidades e que, em vez de nos lamentarmos, temos é que meter mãos á obra e construir algo e criar riqueza, pois só
assim é possível dar a volta por cima.
Para além de tudo isto, desde muito novo que sempre levei o desporto muito a sério, primeiro
nas duas rodas, onde fui vice-campeão Nacional de Enduro em 1991 e fiz parte da seleção
Nacional que foi ao Mundial na Holanda em 1993, para além de vários anos de resultados muito interessantes nos campeonatos Nacionais de Enduro e TT, que levaram a que muita gente me conhecesse na altura e que ainda hoje se recorde de mim.

Depois de 2002 e após um grave acidente que me levou a deixar as motos, criei uma equipa de Ralis com o intuito de disputar o campeonato Nacional. Desde então as coisas cresceram e tornaram-se bastante sérias e hoje em dia a estrutura que existe já envolve alguns meios importantes. Em termos de resultados as coisas têm corrido bem e após algumas épocas em competições monomarca onde estivemos sempre na disputa pela vitória, que aliás conseguimos no Rali de Portugal em 2007, os últimos anos trouxeram-nos algumas importantes conquistas, quer para a nossa equipa, quer para todos os nossos patrocinadores, sem os quais nada disto seria possível. Quero aliás aproveitar a ocasião, uma
vez que se trata de um Jornal local, para agradecer a um patrocinador
meu de “toda a vida”, que é de Ponte de Sôr e que já vem do tempo das motos que é a Pimensor, que sempre me apoiou e á nossa equipa através de todas as marcas que comercializa.
Quem acha que tudo isto é obra do acaso que se desengane, pois tem sido fruto de muito trabalho dedicação e perseverança, uma vez que a meu ver não existe outra fórmula de sucesso para além desta. Eu acredito que a sorte se conquista e que, tal como diz o escritor Paulo Coelho, um dos meus autores de referência, quando queremos muito uma coisa e lutamos arduamente e até exaustão por ela, haverá uma determinada altura em que o universo se une para nos ajudar. Eu acredito sinceramente nesta teoria e até hoje, a vida tem-se encarregado de o comprovar como sendo verdade. E é esta um pouco da minha história. Como já te apercebeste sou uma pessoa que persegue os seus objetivos, que luta por aquilo em que acredita e que tem sempre imensos projetos em mente. Quem convive mais de perto comigo diz também que tenho os nervos á flor da pele, sou impaciente, coloco-me sobre demasiada pressão e exijo muito das pessoas que estão á minha volta. Para além disso sou ainda uma pessoa para quem a família é o mais importante, que é amigo dos seus amigos e para quem a palavra tem um grande significado, pois foi isso que aprendi do meu Pai.
Comecei a trabalhar na empresa de transformação de plásticos que os meus pais tinham em Benavila e depois estive vários anos ligado ao sector comercial de duas empresas fabricantes de pavimentos e revestimentos cerâmicos, a primeira em Espanha e a segunda em Portugal, de onde saí no final de 2010 para abraçar atual projeto em que apostei juntamente com a minha mulher.

Atualmente, estamos ligados ao Grupo dos Mosqueteiros e após o percurso habitual e coincidente a todos os aderentes a este projeto, estamos prestes a iniciar o nosso negócio no sector da distribuição, através da abertura de uma loja Intermarché.

Costumo dizer que não existe boa ou má música, dependendo do nosso estado de espirito, mas gosto bastante de música clássica e ouço sobretudo rock sinfónico dos anos 60 e 70, e também música e grupos alternativos, pouco comerciais. Posso citar por exemplo Antony and the Johnsons, Soap&Skin, Cass McCombs, Bonnie Pince Billy, You Cant Win Charlie Brown, etc, etc, etc.

De qualquer maneira, se tiver que eleger uma banda que me marcou bastante durante a minha adolescência e que, acho, marcou também indelevelmente toda uma geração, terei que nomear o Jim Morrison e os The Doors.

Atualmente não vejo a minha terra como gostaria. Lembro-me na minha infância, da enorme atividade que existia em Avis; – Existiam empresas, serviços, mas principalmente, existiam pessoas.

Hoje em dia é com muita mágoa que vejo o nosso concelho a definhar aos poucos e a não oferecer uma alternativa válida a quem queira continuar a viver por aqui. Olho para trás e reparo com tristeza que, grande parte dos meus amigos de infância se foram embora para as metrópoles ou para fora do País. É pena, porque no passado existiram várias empresas que estavam estabelecidas na zona e que davam trabalho a grande parte dos habitantes locais, contribuindo assim para o bem-estar da população e para a manutenção da qualidade de vida na região. Hoje, olhamos á volta e reparamos que, salvo raríssimas exceções, a grande maioria dessas empresas se foi embora para outros locais ou sessou definitivamente a sua atividade contribuindo para o aumento do desemprego e para que muita gente se fosse embora á procura de uma vida melhor. Neste ponto, penso que as entidades locais não fizeram devidamente o seu trabalho, nem tudo o que estava ao seu alcance para terem evitado o encerramento ou deslocalização de algumas unidades de produção, contribuindo assim de forma significativa para a situação atual.

Daí que, na minha opinião, deveríamos primeiro olhar para dentro de nossa casa ao invés de andarmos sempre a criticar aquilo que se passa na casa dos outros como forma de desculpar a nossa inoperância ou incompetência.

Gostava que o concelho de Avis seguisse um caminho oposto àquele que tem seguido nos últimos anos, pois eu acho que tem que se apoiar o empreendedorismo e a criação de emprego como forma de privilegiar o desenvolvimento local e o bem-estar das populações. Há que dar condições e apoiar quem quer fazer alguma coisa de positivo neste sentido, pois só desta forma será possível manter as pessoas no concelho. Não sendo assim, posso dizer que não estou muito otimista em relação aos tempos mais próximos, pois na minha optica aquilo que se passa hoje em dia não é, de forma alguma, sustentável para o futuro.

A cultura existe para as pessoas, não é assim? Por isso, se não há pessoas para quê investir-se tanto em cultura? Esta é a minha opinião, acho que se andam a fazer as coisas ao contrário.

Esta entrevista fez-me sentir, nostalgia do passado e (muita) preocupação em relação ao futuro da minha terra.


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