As plantas na obra poética de Camões – o novo livro de Jorge Paiva

Neste episódio do aponte AMBIENTAL, celebramos os 500 anos de Camões com uma descoberta fascinante: o poeta mencionou mais de 100 espécies de plantas nas suas obras. Jorge Paiva, referência da botânica portuguesa, revela como a flora atravessa a poesia épica e lírica do autor. Uma ponte entre ciência, literatura e património natural que vai surpreender quem ama cultura e ambiente.

Olá e bem-vindos a mais um Aponte Ambiental. Hoje trazemos-vos uma notícia que une botânica, poesia e património cultural. O botânico Jorge Paiva acaba de lançar um livro intitulado As plantas na obra poética de Camões, onde reúne cerca de cem espécies de plantas mencionadas nas obras épicas e líricas de Luís de Camões.

Este trabalho surge no contexto das comemorações dos 500 anos do nascimento de Camões e representa anos de investigação. Jorge Paiva, natural de Angola e antigo professor da Universidade de Coimbra, é uma referência da botânica portuguesa. No livro, ele mostra como Camões incorporou plantas de vários continentes nas suas narrativas, tanto nas suas viagens literárias pelo Oriente quanto na sua poesia lírica, escrita em Portugal.

Nas páginas da obra épica, principalmente em Os Lusíadas — Camões refere cerca de sessenta plantas. Muitas são asiáticas ou medicinais, ligadas às regiões que idealizou ou que conheceu através das rotas marítimas. Já na lírica, emergem cerca de quarenta espécies, quase todas europeias ou mediterrânicas, as que o poeta conhecia no quotidiano ibérico. Tendo o poeta viajado pela região tropical asiática indo-pacífica, de elevada biodiversidade e rica em especiarias, o número de espécies de plantas referidas neste poema é quase o dobro do das citadas em toda a Lírica camoniana. Conviveu com Garcia de Horta, originário de Castelo de Vide, junto de quem consegiu conhecimentos botânicos e de fitoterapia (das plantas medicinais).

O livro tem 166 páginas e será disponibilizado em acesso aberto no site da Imprensa da Universidade de Coimbra. Isso permite que estudantes, investigadores e interessados na cultura portuguesa possam consultar livremente este repertório botânico-poético.

O que torna esta obra tão fascinante é justamente essa ponte entre a ciência e a literatura. Ver, por exemplo, que Camões menciona plantas medicinais asiáticas por influência de Garcia de Orta, ou que usou referências botânicas para enriquecer imagens poéticas, é descobrir uma nova dimensão do poeta — muito mais do que um viajante ou contemplador: um observador da natureza.

Para além do valor literário e cultural, este trabalho também nos lembra de algo fundamental: as plantas não são apenas ornamentais ou matérias-primas. Cada espécie carrega histórias, usos tradicionais, relações com ecossistemas e adaptações geográficas. Conhecê-las é respeitar a diversidade da vida vegetal que nos rodeia e perceber como o ser humano sempre interpretou e valorizou a natureza.

Conselho ambiental: Leia ou explore este livro. Está disponível gratuitamente no sítio da internet da Universidade de Coimbra. Use-o como porta de entrada para conhecer melhor as plantas locais e também as plantas exóticas que hoje fazem parte dos nossos jardins ou dos sistemas agrícolas. Valorize a botânica, não apenas como ciência, mas como elemento vivo da nossa cultura e identidade natural.

Até à próxima edição do Aponte Ambiental.

E lembre-se de ajudar a preservar o ambiente!

Artigo anteriorTransmissão em direto — Este domingo no jornal aponte
Próximo artigoRegionalização, imigração e saúde em análise no “aponte SEM RODEIOS”