Em Portugal, não vale a pena haver eleições, porque, seja qual for o resultado, nada de substancial muda, nem na forma de governar, nem forma de fazer oposição.
Qualquer observador não pode deixar de constatar que Portugal não é uma verdadeira democracia. O que caracteriza uma verdadeira democracia não é ter diversos partidos, mas partidos que exprimam diversidade e apresentem soluções diferentes para os mesmos problemas. Ora, em Portugal, existe apenas um único partido: o PS com os seus anexos, ou seja, o PS-A, o PS-B, o PS-C e o PS-D.
Todos sabemos que o dinheiro é um bem escasso e, em tempo de crise, é necessário fazer escolhas sobre os cortes na despesa. Aquilo que se esperava do maior partido da oposição é que apresentasse um plano de reformas estruturais, designadamente, da Administração Pública (extinguindo e deslocalizando serviços e criando novas centralidades), das autarquias locais (extinguindo autarquias, dando dimensão aos municípios e equilibrando o território), da Educação (extinguindo disciplinas, criando um novo conceito de turma, acabando com as reprovações no ensino obrigatório e aumentando o grau de exigência na avaliação de alunos e professores), com vista a racionalizar os serviços e a libertar recursos.
No entanto, a estratégia do PS-D é igualzinha à do PS, quando está na oposição. Por um lado, critica o PS por cortar nas pensões, em tempos de crise, tal como fez o PSD quando esteve no Governo no tempo da troika; e, por outro, defende mais subsídios e apoios sociais, ou seja, mais despesa pública e mais dinheiro que é precisamente aquilo não há.
Em Portugal, não vale a pena haver eleições, porque, seja qual for o resultado, nada de substancial muda, nem na forma de governar, nem forma de fazer oposição. Sendo certo que isto corresponde precisamente à vontade da maioria do povo português que gosta muito de criticar nas mesas do café e nas redes sociais, mas, na hora da verdade, escolhe sempre quem lhe garanta que nada muda.