Justiça à Portuguesa

Não há quem não se indigne com a nossa justiça desportiva, cujas penas não são nem dissuasoras, nem punitivas das graves infracções que vão sendo praticadas todos os dias por dirigentes, treinadores, jogadores, adeptos e comentadores dos diferentes clubes portugueses. E toda a gente dá como exemplo a mão pesada dos regulamentos e da justiça desportiva das outras ligas europeias.

Por que razão, então, Benfica, Sporting e Porto não copiam os modelos dos regulamentos das outras ligas europeias? Não sabem a resposta? Pela mesma razão que PS e PSD tremem só de ouvir falar numa justiça penal mais dura, mais célere e mais dissuasora. Ninguém espere, pois, que PS, PSD, Benfica, Sporting e Porto alterem os regulamentos desportivos ou a legislação penal e administrativa, quando são os principais beneficiários do status quo que, sabiamente, cozinharam.

Quando se fala em que todos têm direito a uma segunda oportunidade, é bom não esquecer que as vítimas mortais não têm segunda oportunidade e que a esmagadora maioria da gente que vive miseravelmente por esse mundo fora, como é o caso dos migrantes que arriscam a sua vida na travessia do Mediterrâneo ou que trabalham como escravos em Portugal, não lhes é dada sequer uma única oportunidade.

Mas todos sabemos o que a casa gasta. Em Portugal, os Direitos Humanos e o Estado de Direito são artigos de luxo apenas acessíveis à bolsa de uma pequena elite e para exibir nos processos mais mediáticos. Quanto ao povo, tem de se contentar com a sopa dos pobres da justiça portuguesa, enquanto a classe média é esmifrada para pagar uma justiça desmesuradamente cara, altiva, arbitrária e profundamente injusta.

Mal vai a justiça de um país quando certas pessoas confiam tanto nela.

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