Em tempo de guerra, o mundo é a preto e branco.
O presidente da Ucrânia demonstrou, mais uma vez, que é nos momentos mais difíceis que se revelam os verdadeiros líderes. Perante a invasão russa, uma das maiores potências militares e uma das mais sanguinárias máquinas de guerra, o comediante eleito presidente da Ucrânia respondeu como Leónidas, Rei de Esparta, quando os EUA se ofereceram para retirá-lo da Ucrânia: “Eu preciso de munições, não preciso de boleia. Os russos vão-nos conhecer pela frente e não pelas costas.”
Leónidas, no Desfiladeiro das Termópilas, tinha tido uma resposta semelhante quando o mensageiro de Xerxes lhe propôs a rendição do seu pequeno exército de 300 espartanos perante o imenso exército de Xerxes com 300.000 homens: “O nosso exército lançará tantas setas que encobrirão o Sol”. E Leónidas respondeu: “Ainda bem, combateremos à sombra.”
A resistência de Leónidas permitiu que Atenas se preparasse para enfrentar e derrotar os persas. Por sua vez, a decisão do presidente ucraniano, de ficar para defender a liberdade do seu povo e do seu país contra os invasores, pôs a nu as titubeantes lideranças ocidentais, sempre dispostas a sacrificar as suas convicções pelas suas conveniências. No entanto, face ao exemplo do comediante, a União Europeia e os EUA não tiveram outra alternativa a não ser mobilizar-se e unir-se para apoiar a Ucrânia e enfrentar o ditador russo.
E não me venham falar em neutralidade, quando estamos perante a luta pela liberdade do povo ucraniano contra a invasão russa. Em tempo de guerra, o mundo é a preto e branco. Como disse Max Webber, «neutro é quem já se decidiu pelo mais forte.» Eu estou de alma e coração com o povo ucraniano.
Tal como nos ensinou Aristóteles, “a coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.” E como escreveu Churchill (e é importante recordá-lo neste momento), “Todas as grandes coisas são simples. E muitas podem ser expressas numa só palavra: liberdade; justiça; honra; dever; piedade; esperança.” Zelenskyy, ao recusar-se a ajoelhar perante o poderoso exército russo, optando por sacrificar a sua vida na defesa da liberdade do seu povo, dos ideais europeus e das suas convicções, fez-me sentir ucraniano.