Com mais de 250 mil hectares ardidos até agosto, Portugal enfrenta um dos piores anos de incêndios desde 1996. Mas há sinais de esperança. A Quercus reforça a presença no terreno e mobiliza voluntários para regenerar áreas devastadas, apoiar comunidades e transformar paisagens. Projetos como Criar Bosques, Floresta Comum e Cabeço Santo mostram que é possível reconstruir com espécies autóctones e compromisso coletivo. A biodiversidade é mais do que uma defesa contra o fogo é a base de um futuro resiliente.
Olá e bem-vindos a mais um Aponte Ambiental. Hoje falamos de um tema duro, mas urgente: os incêndios que têm devastado o nosso país em 2025.
De acordo com o 5.º relatório provisório de incêndios rurais do ICNF, até 31 de agosto arderam em Portugal 254 mil hectares. É o 4.º pior valor desde 1996 e até superior ao registado no mesmo período de 2017, um ano trágico que todos recordamos.
Perante esta realidade, a Quercus manifesta solidariedade com todas as populações afetadas e reafirma o seu compromisso de estar presente no terreno. Como disse Alexandra Azevedo, presidente da direção nacional da associação, é tempo de apoiar com todos os meios disponíveis e mobilizar voluntários, não apenas para regenerar as áreas ardidas, mas também para devolver confiança e esperança às comunidades.
E este é um ponto essencial: os incêndios não se combatem apenas com meios aéreos e operacionais. Precisamos de transformar a paisagem. O exemplo da Mata da Margaraça, na Serra do Açor, é claro: rodeada de monoculturas de eucalipto, resistiu ao fogo por ser uma floresta diversificada e composta por espécies autóctones. Isso mostra que a diversidade é uma arma poderosa contra os incêndios e uma base para o futuro do território.
É tempo de inverter a trajetória da destruição e apostar na regeneração. Para isso, é preciso garantir financiamento justo a quem cuida e quer cuidar da floresta e, acima de tudo, um compromisso coletivo para criar paisagens mais seguras e resilientes.
A Quercus já tem vários projetos no terreno que mostram o caminho. Vou dar alguns exemplos. O projeto Criar Bosques, iniciado em 2008, mobiliza empresas, voluntários e apoios para plantar espécies autóctones em todo o país. O programa Floresta Comum, desde 2012, disponibiliza plantas autóctones para reflorestação a autarquias, entidades públicas e baldios — e está agora com candidaturas abertas até 30 de setembro. Outro projeto, Aldeias Suber Protegidas, iniciado em 2023 com apoio da Corticeira Amorim, cria faixas de proteção em redor de aldeias em risco, através da plantação de sobreiros e outras espécies resistentes ao fogo. Há também o projeto Cabeço Santo, que há 20 anos reconverte eucaliptais em bosques autóctones na região de Águeda, abrangendo hoje mais de 125 hectares. E não podemos esquecer o Refloresta, financiado pelo programa europeu INTERREG, que em Portugal é liderado pela Quercus e que trabalha na regeneração de áreas ardidas da Serra da Estrela, em Manteigas.
Além destes projetos, a associação lançou também campanhas de recolha de sementes de centeio e bolotas, e de angariação de fundos para adquirir palha e outros materiais que ajudam a proteger o solo. Tudo isto é essencial para acelerar a regeneração natural e combater a desertificação.
Mas há ainda outro lado: o apoio às comunidades. A rede de núcleos regionais, técnicos e voluntários da Quercus está ao serviço das populações e autarquias, oferecendo apoio técnico e acompanhamento direto no terreno.
A mensagem é clara: precisamos de transformar as nossas paisagens para enfrentar os incêndios. Regenerar a floresta com espécies autóctones, dar condições a quem cuida do território e envolver toda a sociedade nesta missão. Só assim poderemos reduzir a destruição e construir um futuro mais resiliente para o nosso país.
Conselho ambiental: sempre que participar numa ação de voluntariado ou apoiar projetos de regeneração, está a ajudar a floresta e as comunidades. E mesmo em casa, ao valorizar os produtos locais e sustentáveis, está também a apoiar quem cuida do território.
Até à próxima edição do Aponte Ambiental.
E lembre-se de ajudar a preservar o ambiente!