A diferença entre digno e indigno

Para aqueles portugueses que estão sempre a fazer apelo ao legislador para que legisle cada vez mais, como forma de resolver os problemas deste país, designadamente da corrupção, recordo aqui o que disse Disraeli a este propósito: “Quando os homens são puros, as leis são desnecessárias; quando são corruptos as leis são inúteis”.

À mesma conclusão também já tinha chegado Platão há muitos milhares de anos: “Um povo digno não carece de leis que lhe digam como agir responsavelmente; ao passo que um povo indigno encontrará sempre maneira de contornar as leis.

E foi também seguindo o mesmo raciocínio e baseado na sua experiência que Tácito chegou à seguinte conclusão: “Quanto mais corrupta é a República maior é o número das leis.” Por alguma razão, Portugal é o país europeu com mais leis por m2.

E para aqueles portugueses que se agarraram ao escândalo de corrupção que atingiu o Parlamento Europeu para demonstrar que a corrupção não é exclusiva dos políticos e das instituições portuguesas, era importante esclarecê-los que o que define um povo digno e um povo indigno, para usar a expressão de Platão, não é o facto de haver corruptos, mas a forma como os povos reagem à corrupção.

Na União Europeia, a vice-presidente apresentou, de imediato, a demissão, foi demitida de todos os cargos, inclusive do seu partido, ficou em prisão preventiva e a Presidente do Parlamento Europeu apresentou um conjunto de medidas para evitar que um caso semelhante se volte a repetir.

Em Portugal, recorre-se ao jargão “à política ao que é da política e à justiça ao que é da justiça” para manter os suspeitos de corrupção nos cargos ou para os mudar para cargos mais bem remunerados e com menos visibilidade, permitindo que os processos se arrastem até à eternidade, enrolados numa teia legislativa protectora dos corruptos que eles próprios teceram.

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