Portugal tem demasiada gente que se ocupa e muito pouca gente que se preocupa. E os países para saírem da cepa torta não precisam de gente que se ocupa, mas de gente que se preocupa.
No início dos anos 90, eu e a minha irmã pertencíamos ao conselho pedagógico da Escola Secundária de Ponte de Sor e éramos orientadores de estágio.
Na altura de decidir qual o prazo que devia ser fixado para a entrega dos relatórios finais, só eu e a minha irmã discordámos do prazo de 15 dias que foi proposto, por considerarmos que era demasiado apertado. No entanto, na altura da votação, o prazo de 15 dias foi aprovado com apenas dois votos contra: o meu e o da minha irmã.
Acontece que, findo o prazo de 15 dias concedido para a entrega dos relatórios finais, apenas dois membros do conselho pedagógico tinham entregado os respectivos relatórios. Adivinhem agora quais foram os dois únicos membros do conselho pedagógico que entregaram os respectivos relatórios dentro do prazo? Exactamente. Fui precisamente eu e a minha irmã.
Este episódio retrata na perfeição as nossas instituições, o seu funcionamento e essa estranha forma de ser português aqui.
Portugal tem demasiada gente que se ocupa e muito pouca gente que se preocupa. E os países para saírem da cepa torta não precisam de gente que se ocupa, mas de gente que se preocupa.
Eu e a minha irmã fomos os únicos a votar contra o prazo porque, pelos vistos, éramos os únicos que estávamos preocupados em cumpri-lo. Com efeito, quem não faz conta de cumprir um prazo qualquer prazo serve.