Se o Benfica ainda hoje é considerado um grande clube europeu, é graças ao facto de o Eusébio ter feito a sua carreira no Benfica.
Quando nós lemos ou ouvimos as narrativas laudatórias de Cristiano Ronaldo contadas por portugueses, existe um traço que as caracteriza e que encerra a principal causa do nosso atraso cultural e da desertificação do território. Ou seja, o que ressalta de todas as narrativas é a história do portuguesinho, pobre, mas ambicioso, que rumou a Lisboa, passando muitos sacrifícios, com o objectivo de embarcar em busca da glória e do ouro rumo aos grandes clubes das grandes ligas europeias.
Portugal é hoje conhecido no mundo por causa de Cristiano Ronaldo? Tal como Moçambique foi conhecido por causa de Eusébio, mas isso não impediu Moçambique de ser o país mais pobre do mundo, nem impede Portugal de continuar na cauda da Europa. E não é muito difícil de perceber o motivo pelo qual Portugal não se torna mais atractivo pelo facto de CR7 aqui ter nascido, nem Moçambique pelo facto de Eusébio lá ter nascido. Os clubes e as ligas que foram valorizados por CR7 e por Eusébio foram os clubes e as ligas para onde foram jogar e não os clubes e as ligas do país onde nasceram.
Se o Benfica ainda hoje é considerado um grande clube europeu, é graças ao facto de o Eusébio ter feito a sua carreira no Benfica. Quanto ao Sporting de Lourenço Marques, bem pode pôr o nome do Eusébio no estádio e na escola de formação que não há um único jogador que seja atraído por esse facto.
Os portugueses continuam a viver no século XVI: os mais ambiciosos partem para Lisboa com o objectivo de embarcar rumo à Índia e ao Brasil na busca da glória e do ouro e os outros, mais temerosos, ficam na praia a rezar por aqueles que partem, enaltecendo e exaltando a sua coragem e ambição, ao mesmo tempo que vão matando a fome à conta do orçamento da Corte de Lisboa.
Para Portugal ser um país atractivo no mundo e na Europa, tem de começar a ser, antes de mais, um país atractivo para os portugueses mais ambiciosos e mais competentes, o que significa que temos de valorizar mais aqueles que ficam do que aqueles que partem. Caso contrário, Portugal vai deixar de ser um país no verdadeiro sentido da palavra, para se transformar numa praia onde os estrangeiros e aqueles que aqui nasceram vêm passar uns dias de férias durante o ano.