Coluna Vertical – A arte e o lixo

Não vai há muito tempo, no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, uma obra de arte de Jimmy Durham foi destruída por uma inculta empregada de limpeza que resolveu deitar para o lixo os cacos de um lavatório partido que encontrou no chão e que afinal faziam parte da genial obra de arte. É que a obra de arte era precisamente isso: um lavatório vulgaríssimo a quem o artista tinha transformado numa obra de arte depois de o partir de um lado com uma marretada. E a obra de arte era constituída pelo lavatório e pelos cacos caídos no chão.

Por sua vez, em Frankfurt, os homens do lixo resolveram atirar para o incinerador a obra de arte de Michael Beutler colocada numa rua da cidade. É certo que a cidade ficou mais limpa, mas o presidente da Câmara ficou ofendidíssimo com os funcionários camarários por não terem reconhecido nuns desperdícios de construção civil uma obra de arte.

No entanto, se esta empregada de limpeza e estes homens do lixo se tivessem cruzado com o Moisés ou o David de Miguel Ângelo de certeza que não os confundiriam com um monte de entulho.

Donde se conclui que, ao contrário das nossas sumidades intelectuais, qualquer homem do lixo ou mulher da limpeza consegue distinguir facilmente uma obra de arte de um monte de entulho.

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