Coluna vertical – Não prendam os corruptos!

E não adianta procurar governantes fora deste círculo, porque esta gente é a única que suporta o cheiro da pocilga em que o nosso país se transformou

Quando falamos de corrupção temos sempre a mania de olhar para o topo da pirâmide, em vez de olhar para a base que a sustenta e alimenta. Como dizia José António de Almeida, “o caciquismo não é acessório ao regime. É o próprio regime.” As autarquias, como toda a gente sabe por experiência própria, são a corrupção em pessoa.

A pequena dimensão da esmagadora maioria dos municípios faz com que o poder económico da câmara se imponha a toda a população do concelho, impedindo que floresça qualquer actividade fora do seu controlo tutelar. Todos os munícipes, empresas, associações e jornais locais dependem da câmara e das boas graças do senhor presidente, seja para receber um subsídio, empregar o filho, ganhar um concurso, abrir um portão ou licenciar uma obra. A lei é o senhor presidente que só aplica as leis que entende e como entende. E ai de quem tiver o arrojo de se queixar ou recorrer à via judicial. Se o fizer, o melhor é fazer as malas e partir para longe, caso contrário a sua vida vai-se tornar num inferno.

Acontece que, quando os autarcas, os seus familiares e/ou a sua entourage decidem abandonar o conforto da sua autarquia, para desempenhar funções governamentais ficam expostos ao escrutínio do Correio da Manhã que, se, nas autarquias, prefere as notícias de faca e alguidar, a nível nacional, diverte-se a expor o lixo que existe debaixo dos tapetes daqueles que se tornam figuras públicas nacionais.

E não adianta procurar governantes fora deste círculo, porque esta gente é a única que suporta o cheiro da pocilga em que o nosso país se transformou, tendo em conta que é o seu habitat natural. Felizmente que a justiça e as leis deste país são bastante condescendentes com a corrupção. “Se todos os corruptos forem presos, quem vai governar este país?”  

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