Coluna vertical – O facilitismo e as suas causas

Santana-Maia Leonardo

É, por isso, absolutamente natural que as gerações que hoje têm entre 45 e 70 anos tenham horror aos exames e a ser avaliadas.

Na sequência da revolução do 25 de Abril, a esmagadora maioria dos professores foram saneados. Deixou de haver exames e faltas às aulas. Era o tempo das R.G.A. e das passagens administrativas.

No ensino básico e secundário, a maior parte das disciplinas ou não tinha professores ou os professores eram nossos colegas do ano anterior. Segundo os sindicatos de professores, o professor melhor preparado para dar aulas aos alunos do 5.º ano (hoje 9.º ano) era aquele que tinha acabado o 5.º ano há pouco tempo, porque era o que melhor conhecia os problemas dos alunos.

Só nos anos 90, os professores passaram a ser obrigados a dar o programa completo, com grande resistência por parte da maioria dos professores.

E, como no acesso à carreira docente (e outras), o que contava eram as classificações e não a competência e o conhecimento, começaram a surgir como cogumelos Universidade Privadas que vendiam cursos, ao domicílio, com altas classificações que era o que o mercado pedia.

É, por isso, absolutamente natural que as gerações que hoje têm entre 45 e 70 anos tenham horror aos exames e a ser avaliadas. E as gerações mais novas tiveram a infelicidade de ser educadas e formadas por estas gerações que conseguiram aceder às diferentes classes profissionais sem nunca terem sido verdadeiramente avaliadas e sem terem de realizar uma verdadeira prova de acesso que valorizasse o mérito e impedisse o acesso daqueles que não tinham conhecimentos, nem formação, nem competência, nem preparação para exercer as diferentes profissões.

E são precisamente estas gerações que hoje dominam a escola pública, o comentário político, as diferentes instituições e os partidos políticos que têm o descaramento de atormentar a geração dos meus netos com o “facilitismo”, sobrecarregando-a de trabalhos de casa e de disciplinas (umas inúteis e outras com programas idiotas) como se fossem burros de carga. É preciso mesmo não ter vergonha nenhuma. Mas vergonha é precisamente aquilo que nunca tiveram.

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